de Cora Coralina
Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho, servidor do
próximo, honesto e simples, de pensamentos limpos.
Seremos padeiros e teremos padarias. Muitos filhos à nossa volta. Cada
nascer de um filho será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel, a árvore de Ruth, a árvore de
Roseta…
Seremos alegres e estaremos sempre a cantar. Nossas panificadoras terão
feixes de trigo enfeitando suas portas.
Teremos uma fazenda e um horto florestal. Plantaremos o mogno, o
jacarandá, o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
Plantarei árvores para as gerações futuras.
Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros. Terão moinhos
e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens e mulheres, ligados
profundamente ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.
E morrerei tranquilamente dentro de um campo de trigo ou milharal,
ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.
Eu voltarei…
A pedra do meu túmulo será enfeitada de espigas de trigo e cereais
quebrados, minha oferta póstuma às formigas que têm suas casinhas subterra e
aos pássaros cantores que têm seus ninhos nas altas e floridas frondes.
Eu voltarei…
O quadro é obra do pintor e entalhador Ary Salles.
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